Polly Samson: “Eu nunca vi David Gilmour tocar daquele jeito”
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VEJA.com/Divulgação |
Polly Samson: A Jornalista por trás das Letras de David Gilmour e seu Novo Romance
A Parceria Musical com David Gilmour
Mais conhecida como esposa de David Gilmour, Polly Samson não é apenas uma jornalista, mas também autora de três livros e letrista importante para o Pink Floyd.
Composições Marcantes para Pink Floyd e Carreira Solo de Gilmour
Ela não apenas escreveu faixas importantes para o Pink Floyd, como "High Hopes," mas também contribuiu para a carreira solo de Gilmour, incluindo a canção "A Boat Lies Waiting".
Lançamento de "Um Ato de Bondade" durante Turnê no Brasil
Aproveitando a turnê de Gilmour pelo Brasil, Polly lançou seu novo romance, "Um Ato de Bondade", inspirado em eventos familiares e explorando os segredos que alteram uma relação familiar.
Processo Criativo e Diferenças entre Ficção e Música
Em uma entrevista exclusiva, Polly fala sobre as inspirações para "Um Ato de Bondade" e destaca as diferenças entre escrever ficção e compor músicas.
A trama, inspirada em um acontecimento familiar, acompanha a vida de Julia e Julian, um jovem casal que leva uma vida tranquila com a filha, até que esta é acometida por uma doença.
A enfermidade revela segredos que alteram por completo a relação familiar.
Polly fala sobre as inspirações de "Um Ato de Bondade", e como se dá a parceria musical com o marido, ela o descreve com "muitas dificuldades de se expressar emocionalmente e musicalmente", e sobre as diferenças entre escrever uma ficção e compor uma canção.
Ela falou também sobre a apresentação de sábado, 12, de Gilmour em São Paulo (ele também tocou em Curitiba e em Porto Alegre), ela crava: "Eu nunca vi David tocar daquele jeito".
Colaboração Musical com David Gilmour: O Início Orgânico em 1993
Polly revela como foi sua primeira colaboração musical com Gilmour em 1993, durante uma fase de composição no estúdio, compondo "A Boat Lies Waiting" em Homenagem a Rick Wright.
Polly compartilha o processo de composição da música "A Boat Lies Waiting," uma homenagem a Rick Wright, tecladista do Pink Floyd que faleceu em 2008.
Então David veio e falou que tinha uma música, mas não sabia como a letra deveria ser. "Sobre o que você quer que ela seja", perguntei.
Então, comecei a dar sugestões e ele anotou tudo o que eu disse. Eu não sabia que ele iria usar aquilo. Depois, David me mostrou a letra e falou que "funcionava muito bem", e eu não concordei (risos).
Você compõe letras de músicas e escreve livros. Qual a diferença entre o processo criativo de ambos?
Em relação às letras, David me dá demos das músicas e eu as escuto enquanto saio para caminhar. Sinto quais delas conversam comigo, quais me sugerem sobre o que elas podem ser.
Mas o que me ajuda bastante é que David murmura sílabas, vogais e consoantes. Há palavras debaixo da superfície, apenas esperando para surgirem.
A principal diferença entre escrever ficção e letras de música é que, na ficção, tudo sai de mim, como os personagens.
Mas escrever uma letra tem essa incrível sugestão que é a música. E, conhecendo David e o que passa na cabeça - provavelmente melhor que qualquer outra pessoa -, sei que ele vai ser a pessoa que irá cantar minhas palavras. Eu tenho que sentir que a letra é real para mim, mas que ela também seja real para David.
Relação entre "Rattle that Lock" e "Um Ato de Bondade"
Polly relaciona a música "Rattle that Lock" com seu livro, destacando o tema de protesto e luta pelos próprios princípios.
Jornalista Polly Samson é autora de três livros e também letrista.
As inspirações para a trama de Um Ato de Bondade, foi uma história de família bem antiga. Eu tinha um tio-avô que passou pela mesma situação de Julia e Julian, personagens do livro, só que mais complicada já que era durante a Segunda Guerra Mundial e ele era judeu.
O melhor amigo dele ia se mudar para os Estados Unidos e meu tio-avô não podia ter filhos. Então, como eles dificilmente se veriam, esse amigo realizou o "ato de bondade" com a esposa do meu tio-avô.
Anos depois, ele, a mulher e a filha se mudaram para Paris, o que obviamente não foi uma boa ideia. Depois ele as enviou para os Estados Unidos para morar com aquele melhor amigo.
O problema é que demorou seis anos para meu tio-avô conseguir sair da França e, quando ele chegou à América, teve de reclamar pela esposa e pela filha, que viviam com esse amigo.
Meu tio-avô não conseguiu tê-las de volta e retornou para Paris. Eu o amava e o conheci quando era criança, e ele cometeu suicídio quando eu tinha onze anos, pois ele não conseguiu superar aquilo.
A canção A Boat Lies Waiting, de Rattle that Lock, escrita por você e Gilmour, é uma homenagem a Rick Wright, tecladista do Pink Floyd que morreu em 2008.
Como foi compor essa música? Bem, luto é universal e eu também o senti por Rick, já que eu o conhecia por vinte anos, e, de certa forma, ele morreu duas vezes para nós. O homem que amávamos morreu e o músico também.
Quando David gravava este álbum, ele se arriscava nos teclados, mas nunca era a mesma coisa. Ou seja, para David foi uma perda irreparável e eu tentava fazer com que ele se expressasse emocionalmente, musicalmente, e David nunca usa palavras.
Depois nós fomos para a praia e, enquanto eu olhava para um barco, perguntei para David o que a música realmente significava para ele, sendo que naquele ponto eu desconhecia que era para Rick. "É sobre a mortalidade", David respondeu.
Há alguma faixa de Rattle that Lock que você relacionaria com seu livro? A própria música Rattle that Lock se relaciona ao livro. Ela fala sobre protestar, sobre ter o direito de lutar pelo que você acredita.
E ela se relaciona também a Paraíso Perdido, de John Milton, que foi minha inspiração para o personagem Julian, que é um acadêmico que estuda Milton.
Nessa obra, Milton fala sobre quando o diabo enfrenta Deus e que, quando se está tão mal, não há nada para perder.
Experiência Única nos Shows de David Gilmour no Brasil
Polly expressa sua experiência única durante a turnê de Gilmour pelo Brasil, especialmente o show em São Paulo, onde ela afirma nunca ter visto David tocar daquele jeito, destacando a alegria e animação do músico.
Os shows de David no Brasil estavam lotados. Mas eu tenho que dizer que no sábado, em São Paulo, e eu não estou brincando, nunca vi David tocar daquele jeito. Ele saiu tão feliz e tão animado com aquela recepção do público.
Andei pela plateia e as pessoas estavam felizes, simplesmente felizes. Foi fantástico. David sentiu que tinha todo o tempo do mundo, que não precisava se preocupar com nada mais além de tocar. Ele amou o público.