O progressivo foi, ao mesmo tempo, a mais
reverenciada e a mais odiada forma de rock dos anos 70. A reverência vinha da
noção de que o tipo de música criado por Elvis e Chuck Berry estava deixando de
ser primitivo e movido pelo instinto para se tornar complexo e respeitável, em
termos intelectuais.
Em uma palavra, o rock finalmente ‘evoluía’. A
ponto de aspirar, em alguns casos, a ser tão importante quanto uma obra
sinfônica.
Os Beatles deram início a essa evolução,
quando incorporaram elementos de música erudita em seus álbuns, a partir de
‘Rubber Soul’ (1965). Ficou provado que era possível, para uma banda pop, criar
um som que fosse tão estimulante para os pés quanto para o cérebro.
Para isso, os músicos iam na direção contrária
do rock and roll original. Pegaram a deixa de Bob Dylan e transformaram as
letras de rock em plataformas para ideias, e não para descrições de relacionamentos
juvenis.
As canções, estruturalmente, tinham de
acompanhar a complexidade das letras. Três minutos de duração já não eram
suficiente para isso. Elas começaram a ultrapassar a barreira dos 10 minutos e
depois passaram a ocupar lados inteiros dos discos de vinil. E quando o Jethro
Tull lançou ‘Thick as a Brick’, em 1972, o álbum inteiro consistia de uma única
faixa.
A implicação óbvia desse delírio
autoindulgente de grandeza é que qualquer músico disposto a tocar numa banda de
‘prog rock’ precisava ser, na prática, um virtuose para garantir, principalmente ao vivo, a competência técnica necessária exigida por uma
sinfonia eletrônica de 20 minutos ou mais de duração.
Esse virtuosismo, além de tudo, não se resumia
aos tradicionais baixo, guitarra e bateria. O progressivo tinha predileção
especial por instrumentos inusitados no rock, como o mellotron (um teclado que
simula sons de orquestras e corais), a flauta transversal, as guitarras de dois
braços (com 6 e 12 cordas) e os sintetizadores analógicos, como o cultuado
Moog.
Toda essa parafernália num palco era certeza
de um grande espetáculo visual, ainda mais se fosse combinada com jogos de luz
espetaculares e cenários psicodélicos. O problema é que também era virtualmente
inacessível, em todos os sentidos, para qualquer garoto pobre que, como o
‘Street Fighting Man’ dos Stones, só quisesse tocar numa banda de rock and
roll.
Foi para salvar esse garoto que os Sex Pistols
vieram ao mundo. Uma das camisetas mais célebres usadas pela banda, em 1976/77,
tinha estampada uma foto do Pink Floyd com a frase “I Hate” escrita à mão, logo
acima.
Da noite par ao dia, os Pistols e toda a
brigada punk tornaram obsoleto o elaborado conceito por trás das bandas ‘prog’.
O esnobismo estético que elas representavam já tinha sido abalado quando os
Ramones apareceram tocando todo o seu repertório de 10 ou 12 músicas em menos
tempo do que durava uma suíte do Yes ou do Genesis, com letras propositalmente
primárias, no nível “hey ho let’s go”.
O rock progressivo foi aniquilado
comercialmente, assim como um herdeiro do punk, o ‘grunge’, varreria do mapa,
anos mais tarde, as bandas de ‘hair metal’. Depois de viver seu breve momento
de glória, entre 1966 e 1976, o ‘prog’ voltou a ser venerado por bandas
populares na cena alternativa, como o Ozric Tentacles, nos anos 80/90, e o
Porcupine Tree, dos anos 90 até hoje.
O que durante algum tempo vitaminou o alcance
nada desprezível do rock progressivo, um fenômeno tipicamente britânico, foi
sua enorme influência sobre músicos de outros países. E não só da Europa.
No Brasil, quase todo o rock que se produziu
na primeira metade da década de 70 vinha com o orgulhoso carimbo de
“progressivo”. Os Mutantes encerraram a carreira ajustando a sintonia do seu
psicodelismo na direção de Yes e Emerson Lake and Palmer. E até Santos deu sua
contribuição ao gênero com o cultuado – e subestimado - Recordando o Vale das
Maçãs.
O ‘prog’ não desapareceu, mas se renovou em
contato com o pop (Muse), o alt-rock (Mars Volta), o psicodelismo (Porcupine
Tree) e o gótico (Anathema). Não há mais inovadores alucinados como Keith
Emerson esfaqueando teclados Hammond com adagas de verdade. Mas enquanto houver
aparelhos de som Bang & Olufsen, fones de ouvido Sennheiser e reedições em
vinil de 180 gramas de Brain Salad Surgery com a capa original, haverá ‘prog
rock’.
fonte: www.atribuna.com.br
fonte: www.atribuna.com.br
Os 20 álbuns mais progressivos do rock
1. King Crimson: In the Court of the Crimson
King (1969)
2. Yes: Tales from Topographic Oceans (1973)
3. Emerson, Lake and Palmer: Brain Salad
Surgery (1973)
4. Genesis: Foxtrot (1972)
5. Jethro Tull: Thick as a Brick (1972)
6. Pink Floyd: Wish You Were Here (1975)
7. Can: Future Days (1973)
8. Van Der Graaf Generator: Still Life (1976)
9. Gentle Giant: In a Glass House (1973)
10. Tangerine Dream: Stratosfear (1976)
11. Focus: Moving Waves (1971)
12. Moody Blues: Every Good Boy Deserves
Favour (1971)
13. Mike Oldfield: Incantations (1978)
14. Ozric Tentacles: Strangeitude (1991)
15. Curved Air: Air Conditioning (1970)
16. Soft Machine: Third (1970)
17. Porcupine Tree: Lightbulb Sun (2000)
18. Rush: Hemispheres (1978)
19. Renaissance: Ashes are Burning (1973)
20. The Mars Volta - Frances the Mute (2005)
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