Tempest: A Breve e Brilhante Tempestade do Rock Progressivo e Hard Rock
Em meio ao fervilhante cenário do rock britânico dos anos 70, marcado pela efervescência criativa e pelo surgimento de bandas icônicas, uma formação de curta duração, mas de imenso talento, surgiu para deixar sua marca.
O Tempest não era um grupo comum. Formado em 1972, ele reuniu músicos virtuosos de outras bandas consagradas, ganhando a alcunha de “supergrupo menor” não por falta de qualidade, mas pelo seu alcance restrito e vida curta.
Sua história, embora breve, é um fascinante estudo sobre a fusão de estilos musicais e a química explosiva entre artistas de altíssimo nível técnico.
Raízes e Formação: O Legado do Colosseum
A história do Tempest começa com o fim de outra banda lendária: o Colosseum, um dos precursores do jazz-rock e do rock progressivo britânico.
Liderado pelo baterista Jon Hiseman, o Colosseum encerrou suas atividades em 1971, deixando espaço para novas experimentações musicais.
Hiseman, inquieto e sempre em busca de desafios, decidiu formar um novo grupo que explorasse territórios mais pesados, mas sem prescindir da sofisticação instrumental.
Para essa nova empreitada, Hiseman trouxe consigo o baixista Mark Clarke, com quem já havia tocado no Colosseum, e recrutou o guitarrista Allan Holdsworth, então um nome promissor na cena britânica.
O vocalista Paul Williams, com uma sólida carreira no blues e rock, completou a formação original.
Williams havia passado por projetos como a banda de Zoot Money e colaborado com músicos renomados, trazendo uma voz encorpada e expressiva que se encaixava perfeitamente na proposta sonora.
O som do Tempest era uma mistura de hard rock encorpado, progressivo técnico e toques de jazz fusion, resultado natural da bagagem de seus integrantes.
A guitarra de Holdsworth, com suas frases rápidas, acordes inusitados e timbre único, já se destacava como um elemento inovador. Clarke e Hiseman forneciam uma base rítmica poderosa e complexa, enquanto Williams entregava interpretações vocais carregadas de emoção.
Discografia: Dois Álbuns, um Legado
Embora tenha durado pouco, o Tempest deixou dois álbuns que se tornaram objetos de culto entre colecionadores e fãs do rock setentista.
Tempest (1973)
O álbum de estreia, lançado originalmente como Jon Hiseman’s Tempest, é o registro mais cru e ambicioso da banda. A produção é direta, privilegiando a energia das performances.
Destaque para “Gorgon”, que abre o disco com riffs pesados e uma estrutura progressiva cheia de mudanças de andamento.
A faixa “Foyers of Fun” apresenta passagens instrumentais intrincadas e solos de guitarra que mostram por que Holdsworth seria reverenciado por músicos como Eddie Van Halen. “Strangeher”, mais atmosférica e densa, revela o lado experimental do grupo.
O disco foi bem recebido pela crítica especializada, mas teve pouca divulgação, o que limitou seu alcance comercial. Ainda assim, tornou-se um exemplo de como unir peso e complexidade musical sem perder a coesão.
Living in Fear (1974)
Para o segundo álbum, a banda passou por uma reviravolta. Allan Holdsworth e Paul Williams deixaram o grupo.
No lugar deles entrou Ollie Halsall, multi-instrumentista que já havia se destacado no grupo Patto. Halsall não apenas assumiu as guitarras, mas também os vocais e teclados, mudando significativamente a sonoridade.
O disco Living in Fear é mais direto, aproximando-se do hard rock tradicional, mas mantendo momentos de complexidade.
A faixa “Stargazer” é um exemplo dessa nova abordagem, com riffs simples e marcantes. O álbum traz também uma ousada releitura de “Paperback Writer” dos Beatles, adaptada ao estilo pesado e técnico do Tempest.
Apesar da qualidade, Living in Fear não conseguiu abrir espaço nas paradas, e o grupo acabou encerrando as atividades pouco depois do lançamento.
Músicas de Destaque
Mesmo sem hits de rádio, algumas faixas são essenciais para entender o impacto da banda:
“Gorgon”: Uma abertura memorável, com peso e técnica na medida certa. É um cartão de visitas perfeito para quem quer conhecer a essência do Tempest.
“Foyers of Fun”: A mistura de virtuosismo e groove mostra o talento coletivo e a liberdade criativa do grupo.
“Stargazer”: Marca a transição para um som mais direto, com riffs pegajosos e refrão forte.
“Funeral Empire”: Menos lembrada, mas com um clima sombrio e arranjos elaborados que encantam fãs de progressivo.
Influência e Pós-Tempest
O Tempest durou pouco mais de dois anos, mas deixou um rastro de influência, especialmente pela presença de Allan Holdsworth, que se tornaria uma figura central no jazz-fusion.
Sua passagem pelo Tempest ajudou a consolidar seu nome antes de trabalhos importantes com Soft Machine, U.K., Bruford e sua carreira solo.
Jon Hiseman reformaria o Colosseum em meados dos anos 70, continuando a mesclar rock e jazz.
Mark Clarke trabalhou com artistas como Uriah Heep e Rainbow, enquanto Ollie Halsall mergulhou em projetos mais experimentais, inclusive com Kevin Ayers.
Embora o Tempest não tenha atingido o sucesso comercial de outros supergrupos da época, sua proposta ousada e a excelência técnica de seus músicos garantiram um espaço especial na memória do rock progressivo e hard rock britânico.
O Legado de uma “Tempestade”
O Tempest foi um daqueles casos raros em que todos os integrantes eram músicos excepcionais. Isso fez com que sua música fosse, ao mesmo tempo, acessível para fãs de rock pesado e fascinante para quem aprecia virtuosismo.
Hoje, seus álbuns são cobiçados por colecionadores, e suas gravações continuam sendo redescobertas por novas gerações.
Apesar de sua curta existência, o Tempest simboliza um período em que as barreiras entre gêneros eram derrubadas em prol da experimentação e da liberdade artística.
Como o próprio nome sugere, a banda foi uma tempestade rápida, intensa e marcante, que passou deixando ecos duradouros na história do rock.
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